sábado, 18 de julho de 2009

«O mutismo sobre o desaparecimento de Jon é muito doloroso»

Em Urruña, Arantxa MANTEROLA entrevista MAIXO PASCASSIO, companheira de Jon Anza

Não é muito faladora. As respostas são curtas e, embora a emoção tenha estado a pontos de transbordar numa ou noutra pergunta, responde com firmeza. É a companheira de Jon Anza. Ela mesma o levou no dia 18 de Abril até à estação de Baiona, onde apanhou o comboio. Foi a última vez que o viu. “O mais duro – afirma – é não saber o que lhe aconteceu”.

Passaram três meses desde que o militante abertzale donostiarra Jon Anza desapareceu, depois de apanhar um comboio em Baiona com direcção a Toulouse. Desde então, não existem pistas sobre o seu paradeiro. O Gara entrevistou a última pessoa do seu meio que o viu, a sua companheira, Maixo.

Como foram estes três meses para si? Sentiu-se apoiada?
A presença e o apoio da família e dos amigos foi e continua a ser constante. Estão sempre aí, para ajudar, para dar força. Mas a verdade é que é muito difícil de lidar com esta situação. Acordar todos os dias a pensar o que pode acontecer, querer saber o que lhe aconteceu e não ter respostas. Isso é muito duro.

Foi você que viu o Jon pela última vez. Como estava animicamente?
O Jon foi sempre uma pessoa muito positiva e tem muita força. Estava muito decidido a começar o tratamento de radioterapia e a acabá-lo quanto antes para podermos retomar a nossa vida e regressar à normalidade.

Reparou nalguma mudança de atitude da Polícia após o comunicado da ETA em que reconhecia que o Jon era militante da organização?
Não especialmente. Quando fui chamada à esquadra de Baiona, fizeram-me perguntas durante toda a manhã mas não me senti especialmente pressionada. Depois, levaram-me até nossa casa, que inspeccionaram das 13h até às 18h. A actuação da Polícia foi correcta. Levaram a máquina de barbear do Jon, as suas luvas e outros pertences... Acho que para tirar amostras de ADN e, claro, o disco rígido do seu computador e várias pens. Os polícias de Paris também não me intimidaram. Havia uma mulher polícia que me perguntava por que falava do Jon no passado. Eu nem me apercebia. Agora também me acontece às vezes.

Acha que a Polícia está a fazer tudo o que é possível para encontrar o Jon ou para saber o que lhe aconteceu?
Da Polícia de Paris não tenho novidades nenhumas. Os de Baiona informam-nos através da advogada e também já me ligaram directamente para me dizer que averiguações fizeram. Por exemplo, quando encontraram o cadáver de um homem no Errobi, telefonaram-me a perguntar-me se o Jon tinha tatuagens e coisas do género para verificar se era aquele. Ultimamente não nos telefonam tanto. Disseram-nos que procuraram em aeroportos, linhas ferroviárias e estações, hospitais, mas que as buscas tinham sido infrutíferas.

Podem dar a busca por terminada?
Em princípio, a Polícia tem que elaborar um relatório que será enviado ao magistrado, que, por sua vez, o transmite ao juiz de instrução. Nessa altura, a família poderia ter acesso ao que foi feito durante a investigação, com quem falaram e outros elementos que nos permitirão saber se se fez tudo o que era possível.

O ministro Alfredo Perez Rubalcaba afirmou que Jon desapareceu voluntariamente com o dinheiro que a ETA disse que levava. A sua homóloga francesa de então, Michèle Alliot-Marie, embora à boca pequena, também subscreveu essa hipótese. Acha que é possível?
Decididamente não. Isso é impossível. O Jon sabia que, se não fizesse a radioterapia, ia ficar cego. Ele sabia bem que tinha de o fazer. Para os ministros é fácil dizer essas coisas mas eles não conhecem o Jon. Talvez o façam por não saberem nada ou, vá-se lá saber, talvez o façam porque sabem realmente alguma coisa.

Na sua opinião, o que é que se passou com o Jon?
Seguramente, nada de bom. No início, quando andámos à procura em hospitais e estações, imaginámos outro tipo de conjecturas mas, à medida que o tempo ia passando, a possibilidade de que alguém o tenha sequestrado foi tomando corpo. Ao fim de três meses, penso que foi o que aconteceu: um sequestro, e de carácter político.

Como encara as reacções ao desaparecimento de Jon?
Penso que as mobilizações, as denúncias e exigências para saber o seu paradeiro são muito positivas e esse apoio é de se agradecer. No entanto, só houve reacções em Euskal Herria.

Precisamente, porque é que determinados eleitos, partidos ou associações de direitos humanos não reagiram perante o desaparecimento de um militante abertzale, sobretudo tendo em conta os antecedentes históricos que existem em Euskal Herria?
Não sei; é preciso perguntar-lhes a eles por que não dizem nada. Não entendo esse silêncio, nem o dos meios de comunicação franceses e espanhóis. É evidente que não se querem comprometer. Esse mutismo que há em torno do seu desaparecimento é-me muito doloroso. Parece que o Jon não é ninguém para eles mas, para nós, é o meu companheiro, irmão, ou amigo e esse silêncio é muito doloroso.

Acredita que o Jon aparecerá?
Espero que sim. Nesta altura talvez não com vida, mas pelo menos o seu corpo ou algum elemento para saber o que lhe aconteceu. Precisamos de saber o que lhe aconteceu.
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Fonte: Gara


Ver também: Cronologia