terça-feira, 7 de julho de 2009

Lander Fernández: «Antes de me mandar para a prisão, o juiz perguntou-me se achava que era uma represália»


LANDER FERNÁNDEZ, ex-preso político basco

Na quinta-feira passada, Lander Fernández, que tinha sido preso a 15 de Junho, foi posto em liberdade sob fiança. Poucos dias antes de ser encarcerado, tinha dado uma conferência de imprensa em que denunciava uma situação de aliciamento para colaborar com as Forças de Segurança do Estado, e o sequestro e o espancamento que se seguiram à sua recusa. Tal como o próprio salienta, até o juiz Santiago Pedraz lhe perguntou, na Audiência Nacional espanhola, se considerava que as acusações formuladas contra ele eram uma “represália”.

No final do mês de Maio, o ex-preso político basco Lander Fernández tornou pública a queixa que apresentou no tribunal pelo sequestro e posterior agressão a que foi sujeito por parte de vários indivíduos que se identificaram como agentes da Ertzaintza. Fernández relatou que lhe fizeram ameaças, caso se negasse a “colaborar” com eles, mas encorajou as pessoas a fazerem frente a situações deste tipo.

No dia seguinte foi de férias para a Venezuela, mas foi detido no regresso, a 14 de Junho, no aeroporto de Barajas. “No momento de mostrar o passaporte, disseram-me que tinha de esperar, porque estava detido por ter mudado de domicílio sem avisar”, lembra.

O jovem bilbaíno refere que, até ser transferido para a Audiência Nacional espanhola, não lhe disseram qual a acusação que pendia sobre ele. Depois de passar a noite à guarda da Polícia espanhola, foi presente ao juiz Santiago Pedraz, tendo declarado que as acusações “resultavam do facto de ter denunciado” o acosso policial a que foi sujeito em várias ocasiões. Afirma: “o juiz perguntou-me se achava que era uma represália e eu disse-lhe que sim”.

Foi acusado de participar em dois episódios de “violência urbana” em 2000 e 2002, o que foi suficiente para o mandarem para Soto del Real. Afirma que as acusações “são uma montagem” e que foi encarcerado por “vingança”. “Queriam passar a mensagem de que todo aquele que denunciar vai parar à prisão”, salienta. Para além disso, esteve preso no Estado francês entre 2003 e 2008, e nenhuma dessas imputações lhe foram atribuídas durante o tempo de cativeiro ou quando foi posto em liberdade.

«Não é um caso isolado»
Por fim, saiu em liberdade na quinta-feira passada, mas encara o pagamento de 40 000 euros de fiança como mais uma forma de “chantagem”.
Entende que o que se passou com ele “não é um caso isolado” e enquadra-o na “linha repressiva” que se está a ser levada a cabo; nesse contexto, Fernández refere que o caso mais “grave” é o desaparecimento do militante Jon Anza e o mais “mediático é quererem retirar as fotos dos presos dos bares e das txosnas durante todo o Verão”.

Assim, lembra como, quando tornou pública a denúncia, contou que os ertzainas que o assaltaram lhe disseram que, com a chegada de Rodolfo Ares ao Departamento do Interior de Lakua, “isto levou uma grande volta”.

Neste sentido, acha que o objectivo destas políticas é, “para além de incutir medo, que as pessoas encarem o ser familiar de um preso político basco como uma ‘grande caca’ e que a solidariedade com um perseguido político é um compromisso que pode sair caro”.

Tal como recorda, isto não é nada de novo, já que as duas sessões de boas-vindas que lhe organizaram em Santutxu, depois de sair da prisão, foram proibidas. Na primeira vez, a 9 de Fevereiro de 2008, a Polícia autonómica carregou contra as 400 pessoas que se juntaram na Karmelo plaza, três das quais tiveram de ser hospitalizadas. Na quinta-feira o ongi-etorri que lhe tinham preparado também foi vetado.

“Não me considero uma vítima por ter estado preso, mas parece que só existe um tipo de violência e que se só pode recordar umas pessoas, e outras não”, critica. Critica também o facto de o seu caso ter sido “silenciado” nos grandes meios de comunicação apesar de terem assistido à conferência de imprensa que deu, já que, como disse, “essas imagens foram utilizadas pela TVE quando fui detido, mas nada disseram sobre a denúncia que fiz”.

Manex ALTUNA

Fonte: Gara