terça-feira, 28 de julho de 2009

Uma fotografia e mil palavras


Na excepcionalidade política que nos calhou viver em Euskal Herria no começo do século XXI, as fotografias dos prisioneiros bascos são perseguidas pela coligação PP-PSE-PSOE, empenhada em que não recordemos os ausentes nas festas das nossas terras e processando os detidos por «enaltecimento do terrorismo». Esta excepcionalidade, que marca uma clara tendência para o pseudofascismo, é o resultado de uma transição democrática realizada pelos vencedores, que, de forma diversa do que ocorreu noutros países, perdoaram as suas próprias responsabilidades nos crimes cometidos. Aquele ideário baseado na conservação e na defesa da sagrada integridade territorial do Estado encarregou-se de o aglutinar de novo, perseguindo as ideias, os periódicos, as organizações civis e culturais bascas que ofendem o seu sagrado espaço vital. E nestas semanas, com festas em tantas terras de Euskal Herria, o Governo basco já considera uma ofensa inclusive as fotografias dos presos políticos bascos e justificada a correspondente agressão.

No entanto, os ministros espanhóis Chacón e Rubalcaba não explicam por que permitem aos seus subordinados manter a sinistra foto do genocida Franco nos quartéis e nas residências militares.

Nas nossas festas são muitos os que vão estar ausentes. Sabemos dos encerrados em terra de ninguém, de outros isolados com um oceano pelo meio e de outros entregues a quem mais paga, como nos tempos da escravatura. Também sabemos dos que não sabemos, todos e todas muito longe de casa. E é precisamente nestes dias de kalejiras e fanfarras que queremos recordar, e partilhar a lembrança nas praças e txoznas, o que acontece perto e longe deles, porque fazem parte da linguagem de Euskal Herria, ainda que agora seja um delito mostrar as suas fotos. Estas fotografias são uma imagem latente, visível, que contém em si um discurso manifesto com mais de mil palavras, e que revela a perseguição a que Euskal Herria está submetida pelo pacto de Estado. Ora, é o mesmo Rodolfo Ares que deixa bem claro aquilo que pretende dissipar, desmentindo e contradizendo o discurso de López ao apregoar que o Governo basco está totalmente empenhado em solucionar a crise económica e noutras questões públicas mais importantes, como eliminar o direito a decidir. Esta hierarquia de tarefas não se ajusta ao jogo do gato e do rato que iniciaram, com os seus efectivos e dinheiros, para retirar umas fotos e enjaular as inscrições pintadas, embora se procure disfarçar a coisa com algo tão vago como impedir que os presos encontrem substitutos tão jovens. A estas profundas teorias para uma justificação injustificada contrapõe-se a simplicidade explicativa da realidade. Quando perguntaram a Kierkegaard por que acreditava, respondeu: «Porque o meu pai mo disse».

Começaram pelo simbolismo da imagem, mas um especialista em filosofia deveria explicar ao galego Ares que o simbolismo que reúne e liga um grupo é susceptível de ser transportado ou transferido, ou seja, que a carga afectiva pode muito bem mudar de objecto, pelo que tudo se converte numa guerrazita diabólica (antónimo de simbólico) que com o tempo acabarão por perder porque jogam em território não amigo. Existirá sempre um simbolismo hostil para acreditar o direito à própria existência e, portanto, a miragem de Ares e López de acabar com a realidade, velando as fotografias dos presos, é uma ilusão. Por um lado, caminha o discurso propagandístico e ideologicamente erróneo que pretende provocar uma cegueira funcional no povo, escondendo as fotos das praças e das tabernas, e, por outro lado, corre a realidade teimosa, que também descobriram 61% dos cidadãos.

Nas últimas semanas, desorientados políticos anunciaram um curso de segurança com lições milimétricas que aprenderam na sua infância. É que dizer em coro e copiar é mais fácil que ser observador, criativo, original e autor. E com este plágio do modelo de segurança transformam-se naqueles fascistas que utilizam as fotos de Franco em jeito de treino e hábito para construir ainda hoje verdadeiros bunkers ideológicos onde se aprende e se pratica a tortura.

Embruteceram no dia-a-dia com a justificação da sua violência injustificada. Ambicionam um apartheid total, porque a raiva e o ódio não admitem demora. A simplificação das fotografias fala por si mesma. Quanto mais clara for a realidade, maior será a simplificação e, portanto, a barbárie. O tempo o mostrará!

Francisco LARRAURI
psicólogo
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Fonte: Gara