sexta-feira, 10 de julho de 2009

Uma cerimónia fúnebre em Gasteiz vai recordar os 14 padres bascos fuzilados pelos franquistas


Ricardo Blázquez e Mario Iceta, bispos de Bilbau; e os seus homólogos de Donostia e Gasteiz, Juan María Uriarte e Miguel Asurmendi, tornaram pública no dia 30 de Junho uma carta pastoral com a epígrafe «Purificar a memória. Servir a verdade. Pedir perdão», em que evocam catorze sacerdotes “executados” pelos franquistas no decorrer da guerra de 1936. Os prelados não escondem que a decisão que tomaram de honrar aqueles que foram passados pelas armas – nalguns casos torturados previamente, e sem julgamento ou defesa – chega tarde; cerca de dois anos depois de o Papa ter beatificado religiosos fiéis ao fascismo mortos na contenda e a mais de sete décadas do fim da guerra.

A cerimónia fúnebre de amanhã na catedral nova de Gasteiz, sublinham, pelos curas “executados pelos vencedores” e que “foram votados ao silêncio”, procura ser um “sinal visível deste exercício de purificação da memória”. À margem das exéquias, os bispos aceitam que se inscrevam nos registos diocesanos e nos livros paroquiais os nomes de doze dos catorze honrados, já que os de Martin Lekuona Etxabeguren e Gervasio Albizu Bidaur constam dos livros da antiga diocese gasteiztarra – constituída por Araba, Bizkaia e Gipuzkoa – por ordem de Mateo Mujika, prelado que seria mais tarde expulso, ao ter-se recusado a assinar uma carta pastoral a favor de Francisco Franco.

“Queremos pedir perdão e fazer um convite ao perdão. De nenhuma maneira – esclarecem – pretendemos erigir-nos em juízes dos outros, mas sim reconhecer perante Deus as nossas limitações no passado e no presente”. Na sua missiva, os bispos referem que desejam “olhar para o passado para aprender a construir um presente e um amanhã novos”.

Os presbíteros que serão evocados na cerimónia presidida por Asurmendi, Blázquez, Uriarte e Iceta são o oiartzunarra Martin Lekuona Etxabeguren, de 28 anos, coadjutor da paróquia de Errenteria, detido a 29 de Setembro de 1936 com Gervasio Albizu Bidaur, de 65 anos, e fuzilados no dia 7 de Outubro em Galarreta.

O villabonarra José Adarraga Larburu, de 55 anos, foi fuzilado a 17 de Outubro de 1936 em frente a um muro do cemitério de Hernani, ao lado de outro dos evocados: o escritor tolosarra José Ariztimuño Olaso (40 anos) Aitzol, previamente torturado e humilhado na prisão de Ondarreta. Outro dos padres é o zeanuriarra José Sagarna Uriarte, de 24 anos, coadjutor da paróquia de Berritxu, preso a 19 de Outubro de 1936 e, sem prestar declarações, “executado” num prado próximo a Amalloa, depois de ser torturado por franquistas.

Também sem julgamento e sem acusações fundamentadas, foi passado pelas armas o altzarra Alejandro Mendikute Lizeaga, de 45 anos. Capelão de uma igreja donostiarra, esteve dez dias detido em Hernani, sendo depois levado para Ondarreta. Na noite de 23 para 24 de Outubro foi fuzilado à entrada do cemitério hernaniarra. O claretiano José Otano Míguelez, de 45 anos e natural de Lerga, também perdeu a vida nessa noite junto a outros padres.

No dia seguinte, na noite de 24 para 25 de Outubro de 1936, em Oiartzun, caía trespassado pelas balas de outro pelotão sublevado o villabonarra José Joaquín Arin Oiarzabal, de 61 anos, que foi padre ecónomo de Arrasate até à sua detenção, a 15 de Outubro. Ali morreu também o oñatiarra Leonardo Guridi Arrazola, que era coadjutor da paróquia arrasatearra. Outra das vítimas do mesmo pelotão de fuzilamento no cemitério de Oiartzun foi José Markiegi Olazabal, de 40 anos. Este sacerdote de Deba, e coadjutor em Arrasate, dedicou-se à tradução para euskara de diversas obras em francês e castelhano.

Em Oiartzun, de 27 para 28 de Outubro, morreu José Ignacio Peñagarikano Solozabal, de Etxebarria, com 64 anos.

Celestino Onaindia Zuloaga, markinarra de 38 anos, destacou-se em Elgoibar pelo seu trabalho de apoio aos trabalhadores, sendo fuzilado na noite de 28 para 29 de Outubro de 1936 em Hernani. Na catedral nova de Gasteiz rezar-se-á também por Jorge Iturricastillo Aranzabal. O elgetarra, de 34 anos, foi preso no dia 1 de Novembro de 1936 pelos fascistas na localidade galega de Marín, onde era pároco. Foi levado para a prisão donostiarra de Ondarreta e fuzilado no dia 7 de Novembro em Oiartzun.

A lista dos recordados no funeral previsto para amanhã pelos prelados de Bilbau, Gasteiz e Donostia fica completa com o carmelita descalço Román de San José Urtiaga Elezburu, que nasceu em Zaldibar e contava 48 anos quando foi “executado”, no dia 16 de Maio de 1937, pelas tropas franquistas, ao tomarem o convento de Larrea, em Zornotza.

Agustín GOIKOETXEA

Fonte: Gara

Alerta da Sare Antifaxista
“A cerimónia fúnebre de dia 11 de Julho, a realizar na catedral nova de Gasteiz, será presidida pela simbologia fascista daqueles que 'executaram' os catorze padres bascos nos anos de 1936 e 1937, as tropas às ordens do ditador fascista e genocida Francisco Franco”.

Sinbologia Faxistak, E.H_tik Kanpora! A simbologia franquista fora de Euskal Herria!

Fonte: SareAntifaxista

Ver também: «A Ahaztuak juntar-se-á se ao funeral dos sacerdotes bascos assassinados pelos franquistas com uma concentração própria», em kaosenlared.net

“Dito isto, da parte da Ahaztuak 1936-1977 queremos apoiar a iniciativa dos bispos bascos, e para tal decidimos participar com um acto concreto e próprio.”