Alain Berastegi, habitante de Arbizu (Nafarroa), conseguiu juntar forças para contar aquilo que um grupo de homens armados lhe fez durante 7 horas, no dia 17 deste mês. O seu testemunho alarmante contrastou com a escassa presença da comunicação social. Nem sequer a ETB se dignou a enviar uma equipa ao hotel de Iruñea [Pamplona] onde decorreu a conferência de imprensa. [Na verdade, só lá esteve a Apurtu Telebista.]
Berastegi contou como caiu num logro, julgando que ia a Irunberri (Nafarroa) em trabalho, pois tinham-lhe pedido um orçamento para arranjar umas casotas num monte. Quando já se encontrava no bosque, Alain viu-se rodeado por várias pessoas armadas e encapuzadas, que o obrigaram a deitar-se no chão. E então começou aquilo a que ele chamou um inferno. Depois desse primeiro momento, foi agredido por diversas vezes e ainda lhe aplicaram o "saco" (pelo menos 4 vezes), o que levava à asfixia. Um indivíduo de cara destapada oferecia-lhe dinheiro em troca de colaboração. Se não aceitasse ou se fosse contar o que ali se estava a passar, iam-lhe "dar cabo da vida", a ele e à sua família. Perante a recusa de Alain e após 7 horas de ameaças contínuas, deixaram-no ir, não sem antes marcarem novo encontro para a quarta-feira seguinte, em Valtierra. Alain esclareceu que não compareceu e que, ao invés, apresentou uma queixa no tribunal com o objectivo de que isto "não volte a acontecer a nenhum outro cidadão basco" e para acabar com a "impunidade" que estes tipos possuem.
Guerra suja do século XXI
O Movimento pró-Amnistia enquadrou este sequestro na "guerra suja do século XXI" que está a ocorrer com um novo governo socialista, o de Rubalcaba e Zapatero. A este respeito, recordaram que "nos tempos dos GAL e restantes grupos parapoliciais, os dirigentes do PSOE, entre os quais se encontrava o actual ministro do Interior Alfredo Pérez Rubalcaba, condenavam as acções dos GAL, e sempre negaram que as forças de segurança ou o próprio governo estivessem por detrás dos assassínios e dos sequestros.
"Hoje, sabemos que o governo socialista de então estava metido até ao pescoço numa estratégia de terrorismo de Estado, e suspeitamos que actualmente algo de semelhante se está a passar". Exigiram aos partidos políticos e à comunicação social que reajam perante este tipo de acontecimentos, sobre os quais, afirmaram, "mantêm um silêncio preocupante". "Até quando? O que é que tem de acontecer para que os possamos ouvir a denunciar a guerra suja?", questionaram.
Pedem explicações a Elma Saiz e Rodolfo Ares
Também interpelaram a delegada do Governo espanhol, Elma Sáiz, e o conselheiro basco do Interior, Rodolfo Ares, "que em tantas ocasiões nos falaram em acabar e deslegitimar a violência e os violentos". Perguntaram-lhes "qual é a responsabilidade dos corpos policiais espanhóis nesta operação de sequestro e quem foram os participantes e quem deu as ordens para que a operação fosse executada."
Romper o silêncio e vir para a rua
Pediram à sociedade "uma resposta firme e contundente" e encorajaram todos os que passarem por situações deste tipo a denunciá-las, seguindo o exemplo de Juan Mari Mújika, Lander Fernández e Alain Berastegi. "É extremamente importante para eliminar parte da impunidade com que actuam os que põem em prática estas acções de guerra suja. Não é tempo para nos calarmos. É preciso romper o silêncio e vir para a rua."
Assim, apelaram à participação nas concentrações convocadas para os dias 30 e 31 de Julho em frente às delegações do governo espanhol em Hegoalde*. Em Iruñea será no dia 31, às 19h, na Praça Merindades.
Fonte: apurtu.org
* ou Hego Euskal Herria [País Basco Sul, sob administração espanhola, por oposição a Iparralde ou Ipar Euskal Herria - País Basco Norte -, actualmente sob administração francesa]
Ver também: «Sequestro e tortura de um jovem de Arbizu / Alain Berastegi: “A minha resposta é denunciar aquilo que me fizeram”», de Iñaki Vigor, em Gara