sábado, 25 de julho de 2009

Guerra suja: «Disseram-me que, se não colaborasse com eles, me iam dar cabo da vida»


Alain Berastegi, habitante de Arbizu (Nafarroa), conseguiu juntar forças para contar aquilo que um grupo de homens armados lhe fez durante 7 horas, no dia 17 deste mês. O seu testemunho alarmante contrastou com a escassa presença da comunicação social. Nem sequer a ETB se dignou a enviar uma equipa ao hotel de Iruñea [Pamplona] onde decorreu a conferência de imprensa. [Na verdade, só lá esteve a Apurtu Telebista.]

Berastegi contou como caiu num logro, julgando que ia a Irunberri (Nafarroa) em trabalho, pois tinham-lhe pedido um orçamento para arranjar umas casotas num monte. Quando já se encontrava no bosque, Alain viu-se rodeado por várias pessoas armadas e encapuzadas, que o obrigaram a deitar-se no chão. E então começou aquilo a que ele chamou um inferno. Depois desse primeiro momento, foi agredido por diversas vezes e ainda lhe aplicaram o "saco" (pelo menos 4 vezes), o que levava à asfixia. Um indivíduo de cara destapada oferecia-lhe dinheiro em troca de colaboração. Se não aceitasse ou se fosse contar o que ali se estava a passar, iam-lhe "dar cabo da vida", a ele e à sua família. Perante a recusa de Alain e após 7 horas de ameaças contínuas, deixaram-no ir, não sem antes marcarem novo encontro para a quarta-feira seguinte, em Valtierra. Alain esclareceu que não compareceu e que, ao invés, apresentou uma queixa no tribunal com o objectivo de que isto "não volte a acontecer a nenhum outro cidadão basco" e para acabar com a "impunidade" que estes tipos possuem.

Guerra suja do século XXI

O Movimento pró-Amnistia enquadrou este sequestro na "guerra suja do século XXI" que está a ocorrer com um novo governo socialista, o de Rubalcaba e Zapatero. A este respeito, recordaram que "nos tempos dos GAL e restantes grupos parapoliciais, os dirigentes do PSOE, entre os quais se encontrava o actual ministro do Interior Alfredo Pérez Rubalcaba, condenavam as acções dos GAL, e sempre negaram que as forças de segurança ou o próprio governo estivessem por detrás dos assassínios e dos sequestros.

"Hoje, sabemos que o governo socialista de então estava metido até ao pescoço numa estratégia de terrorismo de Estado, e suspeitamos que actualmente algo de semelhante se está a passar". Exigiram aos partidos políticos e à comunicação social que reajam perante este tipo de acontecimentos, sobre os quais, afirmaram, "mantêm um silêncio preocupante". "Até quando? O que é que tem de acontecer para que os possamos ouvir a denunciar a guerra suja?", questionaram.

Pedem explicações a Elma Saiz e Rodolfo Ares

Também interpelaram a delegada do Governo espanhol, Elma Sáiz, e o conselheiro basco do Interior, Rodolfo Ares, "que em tantas ocasiões nos falaram em acabar e deslegitimar a violência e os violentos". Perguntaram-lhes "qual é a responsabilidade dos corpos policiais espanhóis nesta operação de sequestro e quem foram os participantes e quem deu as ordens para que a operação fosse executada."

Romper o silêncio e vir para a rua

Pediram à sociedade "uma resposta firme e contundente" e encorajaram todos os que passarem por situações deste tipo a denunciá-las, seguindo o exemplo de Juan Mari Mújika, Lander Fernández e Alain Berastegi. "É extremamente importante para eliminar parte da impunidade com que actuam os que põem em prática estas acções de guerra suja. Não é tempo para nos calarmos. É preciso romper o silêncio e vir para a rua."
Assim, apelaram à participação nas concentrações convocadas para os dias 30 e 31 de Julho em frente às delegações do governo espanhol em Hegoalde*. Em Iruñea será no dia 31, às 19h, na Praça Merindades.

Fonte: apurtu.org

* ou Hego Euskal Herria [País Basco Sul, sob administração espanhola, por oposição a Iparralde ou Ipar Euskal Herria - País Basco Norte -, actualmente sob administração francesa]

Ver também: «Sequestro e tortura de um jovem de Arbizu / Alain Berastegi: “A minha resposta é denunciar aquilo que me fizeram”», de Iñaki Vigor, em Gara

Para ver testemunho de Alain Berastegi em euskara (vídeo)