terça-feira, 28 de outubro de 2008

Bardenas, o saque contínuo

Quando o presidente da Junta das Bardenas, o Sr. Gayarre, diz que “o Parlamento decidiu que os únicos a decidir sejamos nós” e a imprensa oficialista mantém que “fica claro que a disciplina política pode mais que o desejo de desmantelamento”, a hipocrisia está à vista e aprecia-se a necessidade de uma consulta para saber o quer a maioria dos navarros.

Agora, mais que nunca, deveria existir em Navarra o crime de lesa-pátria, para neutralizar o de lesa-majestade que foi aplicado aos navarros (e continua a ser), no momento em que se nos rouba o desfrute das Bardenas, tantas vezes recomprado e em tantas e tantas ocasiões furtado.

As Bardenas foram fonte de proveitos sociais e económicos para Navarra. Os dados dos séculos XIII, XIV e XV mostram as receitas advindas do pastoreio nos vales de montanha, do fabrico de carvão e do aproveitamento de madeiras.

Ironias da vida, agora querem-nos pagar para realizar treinos de bombardeamentos que podem chegar a ser genocidas. As Bardenas foram roubadas muitas vezes, e recuperadas com novas compras para que Navarra voltasse a possuir o que já de si era e é seu. Uma vez mais, na actualidade, a espoliação encontra justificação na necessidade (violência) do Estado. Necessidade de força que, chamando-se de Defesa, empregou e emprega um território que nos pertence para interesses agressivos.

Nenhum político navarro, mormente os que vemos nas manifestações contra a violência e se dizem cidadãos do mundo face aos nacionalismos, faz por reclamar o que nos corresponde por direito natural, e que somos obrigados a requerer como cidadãos para uma paz verdadeira: que ironia, uma reserva natural da biosfera declarada de necessidade nacional e para a Defesa de um Exército ofensivo!

O carácter limitado de um artigo impede-nos de abordar detalhes e aspectos de uma colonização que por si só justifica a recuperação das Bardenas por Navarra. Mas a irresponsabilidade dos nossos governantes, que alardeiam que Navarra será o que os navarros quiserem, leva-os a apoiar projectos de guerra da força colonizadora e, ocultando as verdadeiras razões, delegam a sua responsabilidade na decisão de uma junta local à qual não cabe tal decisão.

O saque histórico do direito das Bardenas

Fazendo da agressão armada a sua política, os diferentes monarcas franco-godos consideraram as fazendas, bens e benefícios das Bardenas como propriedade sua, e espezinharam os direitos da sociedade navarra, ainda que as Cortes navarras tenham denunciado a espoliação desde os primeiros anos da ocupação. Os abusos e saques repetiram-se continuamente e, com uma ou outra motivação, o Estado monárquico privou os navarros do seu desfrute, numa clara usurpação dos seus direitos e forma de vida.

[E aqui o autor inicia a exposição de uma série de casos que mostram como as forças ocupantes, entre os sécs. XVI e XVIII, foram saqueando as Bardenas, atribuindo licenças de utilização a quem queriam, vedando o seu uso aos navarros e forçando-os a comprar o que por direito lhes pertencia; depois, violavam os acordos estabelecidos quando bem lhes apetecia, e os navarros tinham que voltar a pagar para que não houvesse intromissão do Estado nas Bardenas, pela enésima vez… Conclui o autor:]

A pertença é então clara, e ainda mais o direito à sua utilização. O resto são desculpas do colaboracionismo navarreiro militarista que dá cobertura às ambições de um Exército que não possui razões, nem de paz nem de direitos.

Pedro ESARTE MUNIAIN
historiador

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