quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A polícia espanhola detém quatro pessoas em Nafarroa e Valência, ligando-as à ETA

Tasio_Gara (Detenções em Nafarroa // Presunção de inocência)

Quatro jovens detidos e a descoberta de cem quilos de material explosivo é o balanço da operação realizada ontem pela polícia espanhola em Nafarroa. O ministro Rubalcaba não precisou que acusação exacta pende sobre os jovens, e limitou-se a falar de operação “preventiva” e a dizer que “o normal era que estivessem a preparar alguma”.

“Abortou-se o comando antes de nascer”. Com estas palavras, o ministro espanhol do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, resumiu a operação policial que mantém sob incomunicação quatro jovens navarros: Aurken Sola, Xabier Rey, Araitz Amatria e Sergio Boada. Desconhecem-se as acusações concretas contra eles, já que foi o próprio Rubalcaba que definiu a operação como “preventiva”, referindo, paralelamente, que foram apreendidos cerca de cem quilos de explosivos.

O material foi exposto a alguns representantes da imprensa escrita nas dependências da polícia espanhola, mas não se precisou oficialmente em que sitio concreto foram encontrados – alguma imprensa aludiu ao bairro de Errotxapea e outros fizeram referência a Antsoain. Das sete habitações inspeccionadas pela polícia – pertencentes aos detidos e aos seus familiares – não levaram mais que papéis, segundo puderam verificar algumas testemunhas. Rubalcaba também não ligou a descoberta dos explosivos a nenhum detido em particular.

Entre o material apresentado pelas FSE havia dois revólveres e munições, temporizadores, cordão detonante, 79 quilos de nitrato de amónio, 15 de pó de alumínio, cinco de reforçador líquido, um bidão, marmitas e material informático.

Os quatro jovens foram apresentados pelo ministro como “legais” que formariam parte de um comando, apesar de ao longo do dia se ter insistido na ideia de que Sola possuía antecedentes penais, concretamente uma condenação a 15 meses de prisão, que já cumpriu. Mas quando foi questionado sobre a acusação que sobre eles pende, o ministro deu uma resposta críptica: “Quando um comando tem armas e explosivos, imagine-se; o normal era que estivessem a preparar alguma”.

Rebentaram a porta
As detenções tiveram lugar de modo simultâneo. Numa delas, a de Xabier Rey, na San Nikolas Plaza – no coração da Alde Zaharra –, a polícia chegou a utilizar um par de pequenas cargas explosivas para derrubar a porta, segundo confirmaram os vizinhos.

A sua companheira, Araitz Amatria, foi detida em Valência, onde se encontrava em casa de uma tia, de acordo com informações avançadas pelo Movimento Pró-Amnistia. Estava naquela cidade a estudar. A captura de Aurken Sola deu-se na sua casa, na Txantrea, e assim também a de Sergio Boada, em Añorbe.

Foram inspeccionadas mais três habitações de familiares, na presença dos detidos. A inspecção mais longa ocorreu na Eslava kalea, na casa dos pais de Sola, uma vez que se teve que esperar que o jovem fosse ali conduzido depois de ter sido atendido no hospital, ao que parece, por uma pequena crise nervosa.

Balas de borracha em Donibane
A preocupação com a possibilidade de que os detidos sofram torturas marcou a assembleia informativa realizada no bairro de Donibane, de onde são alguns dos detidos. O Movimento Pró-Amnistia lembrou que as últimas detenções no herrialde conduziram a denúncias generalizadas de maus tratos. Participaram na assembleia cerca de 250 pessoas, mas a manifestação que iniciaram foi logo abortada com o recurso a balas de borracha.

A esquerda abertzale emitiu uma nota na qual ressalta que “Nafarroa está imersa num verdadeiro estado de excepção”, tendo acusado o Estado de “manter um laboratório repressivo” neste herrialde, mesmo sabendo que “através da repressão não vai fazer mais do que agudizar o conflito”.

Todos os detidos levavam uma vida normal e pública, e participavam em diferentes organismos, dos quais chegaram mostras de solidariedade. Assim, o sindicato LAB fez saber que Xabier Rey é um dos seus delegados na empresa Neumáticos Iruña e lançou a mensagem: “Chega de aceitar como normal a existência da tortura”. A Sortzen-Ikasbatuaz, com que Amatria colabora, mostrou preocupação com o tratamento que esta possa receber e manifestou apoio aos seus familiares. A Bilgune Feminista destacou a total falta de defesa que o regime de incomunicação provoca a todos os detidos, como Araitz Amatria, que integra o colectivo.

Fonte: Gara

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