quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A esquerda ‘abertzale’ afirma que o PNV tenta evitar a mudança política


Se a formação jeltzale não promove nenhuma “iniciativa de vulto” depois do veto do Tribunal Constitucional à consulta de Lakua e, ao invés, pactua com o partido que levou a cabo essa impugnação para aprovar as contas espanholas, no entender da esquerda abertzale isso mostra que o PNV quer torpedear e evitar a mudança política que o país requer e exige, e continuar assim na linha da “obediência e submissão à Constituição e à legalidade espanhola”.

Nem insubmissão, nem denúncias a Estrasburgo. Só meia dezena de concentrações. Assim se concretizou “a grande resposta” que o tripartido e o Aralar disseram que levariam a cabo em caso de veto do TC espanhol ao projecto de lei de consulta de Lakua. Para a esquerda abertzale, o fim-de-semana passado, “o que devia ter sido o da consulta de Ibarretxe e que foi o da obediência à Constituição e à legalidade espanhola”, voltou a deixar patente que o projecto jeltzale para o país segue na direcção contrária à do desenvolvimento de uma mudança política em tom soberanista e em defesa do direito a decidir.

A esquerda abertzale considera que o PNV “não quer dinamizar uma grande mobilização” para não intensificar o potencial dessa mudança, da mesma forma que “não deseja aprofundar o conceito do direito a decidir, porque essa é a melhor maneira de encontrar as chaves para a superação do conflito político que o país enfrenta com os dois estados”.

O membro independentista das Juntas de Araba Aitor Bezares e a edil de Hondarribia Miren Legorburu estiveram presentes na terça-feira em Donostia para avaliar os acontecimentos do fim-de-semana passado, que, em seu entender, apresentou três fotografias que mostram “muito claramente” qual é o projecto que o PNV tem para oferecer.

Responsabilidade de Balza e do PNV
A primeira delas seria a das seis concentrações que o tripartido organizou com o Aralar. A segunda foi, na perspectiva da esquerda abertzale, “o tapete vermelho que a polícia do PNV estendeu aos fascistas”, a mesma que, como no terceiro cenário, em Hernani, “espancou os jovens independentistas”.

A esse respeito, afirmaram de forma contundente que os incidentes ocorridos em Gasteiz e Hernani são “responsabilidade única e exclusiva» do conselheiro Javier Balza e da direcção do PNV, já que, para a esquerda abertzale, o procedimento da “polícia do PNV” foi uma decisão premeditada para atingir o independentismo basco e ocultar, por seu lado, a reivindicação e as leituras que a esquerda independentista faz à sociedade. Referiam-se assim ao comício largamente participado que levaram a cabo no sábado em Donostia e cuja informação foi transmitida juntamente com as imagens dos confrontos e dos incidentes.

Os eleitos independentistas descreveram como “curioso” o conceito de “direito a decidir e de participação democrática que Ibarretxe tem”, mas consideraram ainda “mais escandaloso” o mutismo de partidos como o EA e o Aralar, que acusaram de “olhar para o lado”, perante os factos ocorridos.

Sobre o acordo recente entre o PNV e o PSOE para a aprovação do orçamento espanhol, os eleitos mostraram-se convencidos de que nem a base militante jeltzale vê com bons olhos esse apoio àqueles que “vetaram a sua consulta”. Na sua perspectiva, esse foi “outro exemplo de que o PNV não deseja levar por diante iniciativas de peso para demonstrar a Madrid que são um partido de Estado”.

Ainda assim, a esquerda abertzale mostrou-se convencida de que o sábado passado constituiu “uma nova confirmação da defunção do actual marco estatutário”.

Gari MUJIKA
Fonte: Gara