segunda-feira, 13 de outubro de 2008

«Piztu Gasteiz»: o movimento popular tomou conta da Parte Velha

Os aniversários de dois colectivos enraizados na cidade de Gasteiz como a Hala Bedi Irratia [rádio] e o Gaztetxe [centro juvenil], que cumpriram agora 25 e 20 anos de existência, respectivamente, foram um pretexto excelente para que o movimento popular de Gasteiz viesse reivindicar a sua legitimidade para desenvolver projectos alternativos, com uma jornada festiva nas ruas da Parte Velha.

A iniciativa «Piztu Gasteiz! Okupa tu lugar» [Piztu: anima, dinamiza] conseguiu juntar centenas de pessoas nas ruas da capital alavesa, neste último sábado, para festejar os 25 anos de existência da Hala Bedi Irratia e os 20 do Gaztetxe, e reivindicar que são “imprescindíveis” para a cidade.

Houve inúmeras actividades para todos os gostos, num dia que representou o culminar de um ano repleto de iniciativas relacionadas com este aniversário. O movimento popular gasteiztarra preparou diversas zonas para a festa e a apreciação que fazem é bastante positiva, depois de verem a dimensão da resposta que obtiveram.
Foi isso mesmo que a organização quis destacar num comunicado enviado a meio da tarde, referindo que o encontro ficava marcado pela adesão massiva das pessoas.

O dia começou com o percurso realizado pela Parte Velha, seguindo os escritores Amparo Lasheras e Juan Ibarrondo, que evocaram a história de associativismo do bairro e recordaram acontecimentos ali ocorridos nos anos 80.
Os pais e as mães também tiveram que madrugar para acompanhar a pequenada, que tinham um programa matinal intenso, com malabaristas, jogos e palhaços na praça Etxanobe e no palácio Eskoriatza Eskibel; à tarde, desfrutaram da actuação de Kukubiltxo e da festa do chocolate quente.

Ateliê da memória

Um dos actos mais destacados foi o Ateliê da Memória organizado pela Associação das Vítimas do 3 de Março juntamente com a Ahaztuak, para trabalhar “contra o esquecimento e a impunidade da repressão franquista”. No estilo dos tours políticos que os militantes republicanos realizam no Norte da Irlanda, dezenas de pessoas foram desde a sede da Hala Bedi Irratia até ao bairro de Zaramaga, onde ocorreu a matança de cinco operários em 1976.

Os porta-vozes da iniciativa explicaram o contexto político em que se deu a intervenção policial, em resultado da qual também ficaram feridas mais de cem pessoas, e referiram que estava pré-determinada e decidida pelos poderes factuais do franquismo. Para além disto, passaram o documentário Vitoria 1976, uma gravação de vinte minutos produzida pelo colectivo de cinema de Madrid nos meses seguintes ao massacre e que mostra os primeiros testemunhos recolhidos, poucas horas da carga policial.

Posteriormente, os assistentes foram até à a igreja de São Francisco de Assis, onde ocorreram os factos. Aí, alguns dos trabalhadores que viveram a carga policial na primeira pessoa relataram as suas experiências aos participantes nesta iniciativa. O debate terminou junto ao monólito de homenagem aos falecidos, que se situa em frente à igreja, tendo então sido lembrado que a polícia e “elementos incontrolados” o levaram em duas ocasiões.

Julgamento «express»

Os movimentos sociais concentraram-se na praça do Matxete, onde realizaram diversos ateliês e até um trivial participativo. O acto central da jornada também se levou a cabo nesta zona, fazendo a paródia de um julgamento «express» contra a Hala Bedi e o Gaztetxe. Ambos os projectos foram ilegalizados pelo tribunal por integração em “sociedade terrorista” – como esclareceu a juíza Tere – “a basca”, claro.

Uma amostra do bom acolhimento que teve a iniciativa foi a imagem deixada pelo almoço popular na praça Barullerías, em que participaram mais de 700 pessoas. Os bertsolaris Jon Maia, Xabi Paia, Rubén Sánchez e Iñaki Viñaspre também conseguiram criar um grande ambiente.

Os concertos mais concorridos tiveram lugar em Landatxo, onde estavam previstas as actuações do grupo de reggae Green Valley, Deabruak Teilatuetan e Doctor Deseo. Estavam ainda programados os concertos dos Indarrap, a banda responsável pela canção da iniciativa, e Piztu Punk-a, uma proposta que contava com a participação de membros dos RIP, MCD, Etsaiak e Obligaciones.

A mistura entre bertsolaris e hip-hop, com Xabier Silveira à cabeça, foi outro dos momentos altos da festa. Mas, para lá das diversas iniciativas, o que mais há a destacar, realmente, é o facto de o movimento popular ter conseguido que as ruas estivessem animadas e cheias de gente durante todo o dia.

Manex ALTUNA

Piztu Gasteiz, por Indarrap

Fonte: Gara